O governo vê a estagnação da indústria como o problema número um do País. Essa é a avaliação do consultor econômico Raul Velloso, que participou, nesta manhã (21/11), no hotel Laje de Pedra, em Canela (RS), do Fórum Consad/Conseplan. “O governo atual acredita e defende a indústria. O fato de o setor estar estagnado incomoda”, disse Velloso aos secretários da Administração/Gestão e do Planejamento de 21 estados brasileiros.
De acordo com ele, o modelo de crescimento adotado pelo Brasil, baseado no incentivo ao consumo e na exportação de commodities, é a principal causa da perda de competitividade da indústria e do baixo crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. Os fortes incentivos ao consumo levam à apreciação cambial. A contrapartida do elevado consumo – a baixa taxa de poupança – implica baixo investimento, gerando uma queda na competitividade e fraco desempenho do PIB no longo prazo.
A estratégia, segundo Raul Velloso, obtém resultados favoráveis no curto prazo. Foi o que aconteceu no período entre 2004 e 2008, quando a taxa média de crescimento era de 4,8%. Para entender a relação entre aumento de consumo, câmbio sobrevalorizado, a falta de competitividade na indústria e o baixo crescimento do PIB, o economista explicou que é preciso ter em mente um modelo com três setores. São eles: o setor de commodities, minérios e agricultura, indústria de transformação e serviços.
Para o especialista, tanto o setor de commodities como a indústria produzem e, portanto, sofrem concorrência externa. O setor de serviços, por sua vez, não sofre concorrência do exterior. A indústria, então, sofre perda de investimentos e uma migração de trabalhadores para o setor de serviços, que tende a remunerar melhor seus colaboradores. Ou seja, o custo unitário do trabalho (salário real dividido pela produtividade) subiu demais, elevando os custos e fragilizando o setor. “Este para mim é o grande problema da estagnação da indústria”, disse ele, que acredita em um crescimento menor da economia brasileira até que o problema seja resolvido.
O governo tem tentado fortalecer o setor produtivo de várias formas com desoneração tributária e tentativas de depreciar a moeda brasileira. Entretanto, toda ação tem custos, avalia Raul Velloso. “Sem dúvidas, a falta de comunicação das ações governamentais para reverter o quadro traz ainda mais fragilidade à economia”, diz o economista.
Cinco mais vulneráveis
Segundo a Morgan Stanley, os cinco países mais vulneráveis à uma crise econômica internacional são o Brasil, em primeiro lugar, seguido por Índia, Indonésia, África do Sul e Turquia. A perda de confiança no mercado Brasileiro está, segundo o economista Raul Velloso, atrelada à dívida bruta do setor público, hoje em 68% do PIB. “No fundo, a discussão tem a ver com a capacidade do País em pagar essa dívida ou não”, explicou.
Ele lembrou a tese do economista Delfim Neto sobre o risco da “tempestade perfeita”. Delfim, em artigo publicado no jornal Valor Econômico, analisou que se o governo insistir em não dar atenção às avaliações das agências de rating e a organismos internacionais sobre o aumento da dívida, o Brasil poderá correr riscos no primeiro semestre de 2014. A “tempestade perfeita” seria gerada por uma conspiração de eventos simultâneos: a redução do nosso rating (perda de investimentos) e o início do fim dos estímulos monetários nos EUA.
Segundo Velloso, o País já apresenta indícios de fragilidade interna, como o endividamento das famílias e o comprometimento de renda com essa dívida; déficit externo mais alto dos últimos tempos; controle da inflação e equilíbrio fiscal ameaçados. Este último, muito em conta da aprovação recente, pelo Congresso Nacional, do projeto que muda regras do superávit primário. O texto desobriga a União de cumprir as metas fiscais não atingidas de Estados e municípios este ano.
“Talvez o governo esteja dizendo: eu faço a minha parte, Estados e municípios fazem a deles”, avaliou. Entretanto, segundo Velloso, o investidor vai olhar para o Brasil como um todo e não por quem foi culpado pela dívida.
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